terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Eu sou uma imensidão de areia solta. Eu sou o deserto do Saara, o deserto do Atacama, não chove nunca, não adianta esperar nem rezar pros deuses. Eu sou o deserto de Gobi, de Nairobi. Fósseis, se tanto, eu acabei com a vida que existia em mim. Eu sou o deserto de Kara Kum, onde a areia é vermelha. Em mim não existe cor, a areia não é vermelha, nem marrom. Nem o céu é azul de dia e negro de noite. Eu sou um deserto e fiz minhas próprias cores. Eu sou o deserto polar, gelo desgelo. Nem a neve existe em mim, eu matei a água, tirei tudo que existe. Eu só sou areia, um pó, resquício do que antes havia, uma grande montanha que lutou contra mim e perdeu. Ventos fortes que não agüentam o percurso. Eu não tenho fim.

Tente olhar para mim, tente ver alguma coisa. Não existe fim, nem longe. Uma visão parada e forte, que não é feia nem bonita. Eu sou o vale da lua, da vida inexistente. Não existe som, apenas um sonido constante que eu faço para o nada que eu fiz.

Eu era frio de noite, muito frio de derrubar o ar. Era quente de dia, sol a pino que perturbava a terra, craqueava, cortava, rachava e estalava. Eu matei o sol e a noite. O sol desistiu de fazer calor e a noite desistiu de fazer frio e trazer a lua cheia. Eu tenho muito tempo, eu não tive começo.

Eu falei que não tenho cores? Tenho, diferentes tons de uma cor inexistente, morta. Tom aquele que a cor toma quando desiste de tentar. Ninguém vê. Nenhum animal, nenhum explorador, nenhuma planta, nenhuma água. Nenhum movimento. Eu só tenho o movimento da Terra em rotação, e do tempo. O tempo é meu único amigo. Eu sou bem parecido com o tempo e o barulho que ele faz nas minhas montanhas de areia e rocha é a música que eu toco.

Eu também não tenho onde.

Eu também não tenho o que fazer. Já fiz tudo, tenho tal força que acabo com tudo que respire. A areia seca. Qualquer coisa que tente mudar. Só o tempo, meu amigo. Ele consegue, bem como eu gosto, quase como eu mando. Devagar, bem aos pouquinhos, areia por areia, grão por grão, meus criados.

Eu mato a vida, mas a morte habita em mim, o nada. Wilderness. Há elementos da morte que se mexem, movimentos rápidos e precisos. Eu sou um deserto de fora e sem horizonte. Eu sou um deserto.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

"As mulheres são assim elas não adquirem conhecimento sobre as pessoas como nós elas nascem com uma fertilidade prática de desconfiança que gera frutos de vez em quando normalmente com motivo elas têm uma afinidade pelo mal dão ao mal o que lhe falta puxam o mal para junto delas de modo instintivo como quem puxa cobertas ao adormecer(...)"
W. Faulkner

sábado, 2 de junho de 2007

samba do veloso.

Ah, bem melhor seria
Poder viver em paz
Sem ter que sofrer
Sem ter que chorar
Sem ter que querer
Sem ter que se dar

Mas tem que sofrer
Mas tem que chorar
Mas tem que querer
Pra poder amar

Ah, mundo enganador
Paz não quer mais dizer amor

Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais

O tempo de amor
É tempo de dor
O tempo de paz
Não faz nem desfaz

Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu

segunda-feira, 28 de maio de 2007

solidão é palavra demais pra isso

sozinho. eu sou sozinho, que é palavra mais miúda.

só. dó.sol.


mais depois.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

boniteza

Renúncia

"Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.

Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...

A vida é vão como sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira
Sem um grito sequer, tua desgraça.

Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a deus que a faça
Tua doce e constante companheira"

Sr. Manuel, mas não dê bandeira.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

do medo

"o medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa assim pra todos os sentidos."

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Estação

Eu até gosto do inverno.

Dos dias frios com os céus cinzas cheios de adeus. Aquele vento da tristeza incubada te levando para qualquer lado mesmo. Você fica chutando pedras pelo caminho e levanta a gola do casaco.E o vento gelado te sopra que a vida é mesmo assim sem pressa de se acabar, cozendo aflições e saudades eternas. E de repente uma música.

E você pára pra acender um cigarro. Eu até gosto do inverno.

Porque parece que é assim mesmo, a alegria da gente é pequenininha mesmo e a gente tem que esperar até acabar. E cada olhada para o lado que você dá é uma sentença de morte. E todo o dia parece desabar sobre a gente, ou ainda parece sair de dentro assim como nosso olho criasse tudo que se vê e lá dentro a única coisa que há é uma indizível imensidão criadora de dias. E quando você olha para suas mãos e elas não fazem sentido, pra calçada e ela não faz sentido, suas memórias também não. Nada faz e você olha para o céu e ele é da cor do seu coração.

Eu gosto do inverno porque a dor parece tao pertencente da gente que é ela quem faz o tempo correr devagarzinho, doendinho. Vira ali a dor amiga parceira, e você entende que é mesmo pela vida inteira que você carrega, por mais que se gaste os sapatos.
Eu até gosto do inverno, não é só escolher a música certa.
É saber com certeza que você construiu tudo aquilo que existe. Que as verdades são coisas de verão, que a saudade é que é rio perene. Seu coração parece então uma ampulheta gota-a-gotejando toda aquela coisa, bem miudinho, pra cair no tanque de areia do sofrer.

Cada baforada que você solta forma uma imagem monstruosa que você não estranha, e ela pisca pra você. O inverno é mais perto do inferno, e isso não é só um jogo de palavras. O inverno combina com um coração gelado. O inverno é mais perto do segredo damorte. O inverno é o lugar do não-amor (por isso eu me sinto em casa)

As ondas voltam pro inverno, as praias ficam desertas. E existe areia ali pra secar um pranto. O inverno congela as lágrimas. O inverno entra pelo nariz da gente e sai pela boca na forma de canção e pelos olhos na forma de choro rasgado.

E o que dizer daquele azul pálido e triste que fica boiando no céu? Azul-cor-de-amor. Um azul gasto, de que já não quer mais ser azul, e pega na mão do nada pra virar não-cor. Vai embora logo logo, igualzinho ao amor. Dizo nome do azul enquanto ele desce.! Ele foge, se esconde. E depois fica chorando o di'inteirinho e morre nas saudades. O azul-desilusão.

Do inverno eu gosto. Diz pra gente que a gente morre mesmo, e até do que vai. - saudadee tristeza.
O inverno grande, vem de dentro.

para que desperdiçar folhas com isso? Esses segundos infinitos de ódio. Para que saber e pensar certas coisas?

segunda-feira, 7 de maio de 2007

até onde Isso vai?

sexta-feira, 4 de maio de 2007

é preciso perdoar

ê, madrugada já rompeu
você vai me abandonar
eu sinto que o perdão
você não mereceu
eu quis a ilusão
agora a dor sou eu

sexta-feira, 27 de abril de 2007

enquanto isso, na sala da justiça...

segunda-feira, 16 de abril de 2007

agora eu quero que me estourem os moinhos.
e quero me afogar nessa lama de pus e sangue.

e todas as outras coisas do meu mundo apertado.

não passa de um encontro entre duas epidermes e duas pálidas fantasias, o amor.

fracas, fraquinhas, com cheiro de pêssego e gosto ruim, amargo.
que eu saiba todas as coisas e marque-as com um X bem grande e escuro.

que pare de girar o mundo, o ar seja mais puro e eu consiga dormir rapidamente.
sem os segundos de profundo aperto dentro de não sei onde, que belisca e faz chorar.

eu esqueci como se escreve, perdão.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Frederico, máxima 153, 1886

" que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal"

quinta-feira, 15 de março de 2007

Guardo na memória a saudade numa caixa. Quando abro está vazia.
Guardo no peito a saudade e o ciúme numa caixa. Quando abro está vazia.
E o esconde-esconde.
E o piques.
Abro a caixa da saudade e dou de cara com o silêncio.
Abro a caixa do ciúme e dou de cara com a morte.
Abro mais uma caixa, e mais outra, e mais outra, e mais outra, e depois eu fecho.
As caixas não têm tampa. Ela têm noites
As caixas, uma eu não abro mais.
páro.
.
.
.
desisto.

Eu não existo.

quarta-feira, 7 de março de 2007

"nós nem terminamos de discutir a questão da existência de deus e você quer comer?"

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

estou com o meu saco na lua.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

não. não posso. não.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

- você atirou?
- foi preciso.

- ....

- você atirou? foi preciso.


-foi preciso.
Where's the machine that goes ping?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

vontade

Eu quero ser quero-quero
Eu quero ser quero- quero
Eu quero ser quero-quero
Eu quero ser sabiá;

Acordo vivoemorro e durmo
Acordo vivoemorro e durmo
Acordo vivoemorro e durmo
Acordo vivo e morto e só.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

prato perfeito

eu não gostaria de morar só nas nuvens do céu.

eu não gostaria de virar pózinho de giz

eu nao gostaria de viver e morrer a cada instante
nem de ficar atirando pedras no lago da saudade ad infinitum

e a gente fica vendo tudo de longe, é assim?
a gente vira ornitólogo?


terça-feira, 9 de janeiro de 2007

gosto de pedras moídas
gosto de vontades moídas.
e remoídas.

agora não gosto mais de nada
agora estou enterrado sob um pilha de .

me resta agora um suspiro fundo.