sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

apotegma

Preciso começar. Fazer minha vida, um texto. Só a primeira palavra, pensar em alguma coisa. Elas me atormentam, se embaralham, se confundem e me confundem. Eu só preciso da primeira, da fonte, do álcool, a única palavra possível para começar esse texto, só existe uma e eu não a acho. Tão lógica na minha mente, tão rude na minha mão, lúdica tormenta. Eu preciso arranjar uma história. Não, não é a vida uma autocontemplação mórbida e cínica. Por que haveria de sê-lo a arte? Para onde vou agora? Ficar pensando na chuva, torrencial chuva lá fora. Ilusão do círculo. Nada começa terminado, o fim antes mesmo do início. Esperar pela palavra perfeita antes de ela ser escrita. T.S. Eliot dizia que viveríamos explorando para, no final, chegar em um ponto, exatamente onde começamos. Feliz ele, que já sabia onde iria chegar. Tentar saber das coisas antes de elas serem. O que eu estou procurando agora? Meu texto ficaria assim cheio de interrogações e nada pior do que um inseguro nessa hora. Tenho medo de escrever bobagens, de começar errado e levar comigo um bom texto para o buraco. Só porque sofro minhas palavras não precisam ser sofríveis. Elas sofrem para sair, como se encontrassem obstáculos, ou são como o dono. Têm medo do mundo e o que ele poderá fazer com elas. Simples, corretas, e quase auto-suficientes, elas têm medo da corrupção. Da inanição. Da imperfeição. Especialmente da imperfeição. Complicados palavrórios que surgem do nada. Paisagens mortas-vivas que penduram e colhemos palavras. Talvez isso seja uma pergunta, mas nunca chegarei a lugar nenhum se ficar dependendo delas. Escrever sem saber a língua não me basta. Minha chama, minha sentença.

TRiz
temo
não fumo
passo-a-passo ando no pedaço volátil
meço o passo concreto
tenho horror ao concreto
tenho horror ao discreto
dissolvo a cabeça e o reto
dissolvo o chão e o teto
dissolvo o errado e o certo
A alma idosa. A alma feto
h á um gole de veneno me esperando no jardim secreto
Páro
.
Desisto
.
Eu não mais existo.